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O BANCO PARALELO DO PCC

  • Foto do escritor: Bernardo Ariston
    Bernardo Ariston
  • 19 de set.
  • 2 min de leitura

Por Bernardo Ariston


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A Operação Carbono Oculto, deflagrada em 28 de agosto de 2025, tornou-se um marco no enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Conduzida pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), por meio do GAECO, a investigação começou em 2023 após a apreensão de um caminhão-pipa carregado de metanol irregular na Via Dutra. Esse episódio, aparentemente pontual, revelou-se a ponta de um esquema gigantesco: uma rede controlada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) que, em apenas quatro anos, movimentou cifras bilionárias.


Segundo o MPSP, cerca de 1.000 postos de combustíveis espalhados pelo país movimentaram R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024. Mas a engrenagem não parava na bomba de gasolina. O dinheiro era canalizado para uma fintech que funcionava como um banco paralelo, operando R$ 46 bilhões de forma oculta, e posteriorm

ente direcionado para 40 fundos de investimento, com patrimônio superior a R$ 30 bilhões. Assim, o dinheiro do tráfico e da sonegação deixava de ser identificado como ilícito e retornava ao mercado travestido de investimento sofisticado.

Para desmontar essa rede, o GAECO contou com o apoio de Receita Federal, Polícia Federal, Ministério Público Federal, PGFN, ANP, Sefaz-SP, PGE-SP e das polícias Civil e Militar. Mais de 1.400 agentes cumpriram centenas de mandados em oito estados, bloqueando bens e ativos em escala inédita.


Entre os operadores identificados estão Mohamad Hussein Mourad (“Primo”), Roberto Augusto Leme (“Beto Louco”) e Renato Steinle de Camargo, apontados como os testas de ferro responsáveis por dar aparência legal a empresas de fachada e a negócios formalmente respeitáveis. A rede incluía ainda a Rede Boxter de Combustíveis e a fintech BK Bank, que sozinha movimentou R$ 17,7 bilhões, sendo 80% ligados diretamente ao PCC.


A Carbono Oculto deixa claro que o PCC não é mais apenas uma facção criminosa restrita a presídios. A facção evoluiu para se tornar uma corporação bilionária, com tentáculos em setores estratégicos da economia, do posto de gasolina adulterado às salas de reunião na Faria Lima. O que antes se limitava a tráfico e extorsão hoje assume a forma de fundos, fintechs e empresas que funcionam como lavanderias de capital ilícito.

De um lado, facções que atuam como conglomerados privados, infiltrando-se em cadeias econômicas vitais. De outro, o Estado, que precisa agir com inteligência, autonomia e força institucional para não se tornar refém.


Combater o PCC não significa apenas reprimir o tráfico de drogas, mas enfrentar um poder econômico estruturado e camuflado dentro da legalidade aparente. O desafio não está apenas nas ruas ou nos presídios, mas também nos balanços contábeis, nos fundos de investimento e nas engrenagens invisíveis da economia.

A Carbono Oculto mostrou que o Estado brasileiro tem capacidade de identificar e desmontar essas estruturas complexas, desde que mantenha suas instituições fortalecidas e blindadas contra interferências políticas. É um alerta: se o crime se modernizou, a resposta também precisa ser moderna, firme e constante.

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