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A Virada Climática Começa na Amazônia

  • Foto do escritor: Bernardo Ariston
    Bernardo Ariston
  • há 7 dias
  • 3 min de leitura

Na COP 30, em Belém, o Brasil tem a chance histórica de transformar o simbolismo da Amazônia em liderança real na agenda climática global.


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Por Bernardo Ariston


A COP 30, que acontecerá em Belém do Pará a partir de segunda-feira, 10 de novembro, não será apenas mais uma conferência climática. Ela carrega um peso simbólico e político raro, pois ocorre dez anos após o Acordo de Paris, vinte anos depois do auge do Protocolo de Kyoto e, pela primeira vez, dentro da própria Amazônia, o coração da maior floresta tropical do planeta. Esse fato muda tudo, elevando o nível de cobrança sobre o Brasil.


Em 2009, participei da COP 15 em Copenhague como deputado federal e presidente da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. Naquele momento, o mundo aguardava um acordo global robusto, mas o resultado foi frustrante: o chamado “Acordo de Copenhague” acabou se tornando apenas um documento político, sem força jurídica. Ainda assim, dele nasceram bases importantes, como as metas voluntárias e o compromisso de limitar o aquecimento global a 2 °C. Essa lembrança serve hoje como alerta: sabemos o custo das promessas não cumpridas.


A COP 30 será o momento de transformar intenções em ações. Os países deverão atualizar suas NDCs (compromissos nacionais de redução das emissões de gases de efeito estufa), ampliar metas de adaptação e resiliência e definir um novo modelo de financiamento climático. Mas Belém traz um elemento inédito: a centralidade da Amazônia e de seus povos. Por isso, muitos já a chamam de “a COP da Natureza”. Desmatamento, bioeconomia e direitos humanos estarão no centro das negociações, e não mais nas margens.


O Brasil chega a essa conferência em posição ambígua. De um lado, apresenta avanços como a redução do desmatamento, uma diplomacia ambiental ativa e a criação de um mercado regulado de carbono. De outro, enfrenta críticas pelo licenciamento de petróleo na foz do Amazonas, conflitos fundiários e atrasos na infraestrutura do evento. O país será, ao mesmo tempo, vitrine e réu. A coerência entre discurso e prática será essencial para consolidar o Brasil como liderança climática real.


Na abertura da Cúpula de Chefes de Estado, realizada antes da conferência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou que “os olhos do mundo se voltam para Belém” e afirmou que não se trata de “um mercadinho ideológico”, mas de decisões sérias e implementadas. Seu discurso reforçou o compromisso de transformar simbolismo em ação concreta.


A presença de povos indígenas e comunidades tradicionais, que chegam a Belém por rios e estradas, dá à conferência uma dimensão humana inédita. Se suas vozes forem realmente ouvidas e não apenas celebradas, a COP 30 poderá representar o momento em que o mundo compreendeu que sem direitos não há floresta, e sem floresta não há clima.


Do ponto de vista geopolítico, será também um teste ao multilateralismo. O Sul Global chega cobrando justiça: não pode ser pressionado a fazer mais enquanto os países ricos ainda devem financiamento e compensações. O Brasil terá de equilibrar essas forças, mantendo pontes com Estados Unidos, União Europeia, China e BRICS. Se conseguir, poderá emergir como articulador de um novo pacto climático mais justo e equilibrado.


Entre o entusiasmo e o ceticismo, a COP 30 mobiliza narrativas opostas: de um lado, há quem tema discursos vazios e promessas adiadas; de outro, cresce a convicção de que o Brasil e a Amazônia podem conduzir uma virada histórica no debate climático. Belém simboliza mais que um palco: representa a chance concreta de transformar o protagonismo ambiental do país em liderança global efetiva, capaz de unir justiça social, soberania e sustentabilidade.


Nenhuma conferência sozinha salvará o planeta, mas se Belém elevar o financiamento climático, consolidar compromissos com as florestas e mostrar que desenvolvimento e proteção podem caminhar juntos, terá cumprido seu papel histórico. Tendo vivido Copenhague, sei o quanto é fácil frustrar o mundo e o quanto é difícil reconstruir a confiança. A experiência de 2009 me mostra que chegou a hora de transformar o discurso em ação. Se houver coragem, a COP 30 pode marcar o início da virada que o planeta tanto espera.

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