Cabo Frio perdeu a chance?
- Bernardo Ariston

- 19 de set.
- 3 min de leitura

Cabo Frio tem tudo para ser um destino turístico de excelência, comparável a cidades costeiras reconhecidas mundialmente. Suas praias de beleza única, o patrimônio histórico, a cultura local e a posição estratégica na Região dos Lagos lhe conferem atributos para atrair investimentos e reconhecimento global. No entanto, a realidade política insiste em frustrar esse potencial. A cidade se mantém presa a um ciclo de populismo, clientelismo e crescimento desordenado, fatores que há décadas minam sua capacidade de se tornar referência nacional e internacional.
A história recente mostra que prefeitos como Alair Corrêa, Marquinho Mendes, José Bonifácio, Adriano Moreno e Magdala Furtado não conseguiram implantar um projeto consistente para o futuro de Cabo Frio. Cada um, à sua maneira, optou pelo imediatismo da política: discursos populistas, obras de perfumaria, arranjos duvidosos e posicionamentos pontuais em detrimento de governança eficiente, planejamento urbano e social ou obras de infraestrutura transformadoras. O turismo, em vez de vetor de desenvolvimento sustentável, foi reduzido a bandeira populista, baseado apenas no volume de visitantes. O resultado é um modelo que lota praias no verão, sobrecarrega serviços públicos e deixa a cidade esvaziada no resto do ano.
O Legislativo municipal também contribuiu para esse quadro. A Câmara de Vereadores historicamente se mostrou submissa ao Executivo, mais voltada a acordos de bastidores do que a projetos estruturantes. Em vez de liderar debates sobre urbanismo, desenvolvimento social, turismo sustentável e valorização cultural, a prática dominante foi o clientelismo, com atuação centrada em favores e demandas efêmeras. Assim, a cidade perdeu a oportunidade de construir políticas sólidas de longo prazo, ficando presa a interesses particulares e de curto alcance.
As consequências estão à vista. A periferia segue em expansão sem infraestrutura, o saneamento continua deficiente e compromete lagoas e praias, a mobilidade urbana é precária e a desigualdade social cresce. O empobrecimento não é apenas financeiro, mas também cultural e político. O patrimônio histórico permanece subaproveitado, a identidade local relegada a segundo plano, e a população, acostumada a gestões improvisadas, acabou condicionada a aceitar o caos como parte da rotina.
Cabo Frio poderia ser reconhecida internacionalmente pela qualidade de suas praias, pelo turismo náutico, pelo calendário cultural e pela boa governança. Mas a ausência de visão estratégica transformou esse potencial em frustração. Enquanto o mundo exige planejamento urbano, sustentabilidade e qualificação, a cidade insiste em repetir fórmulas antigas que já se provaram falhas.
É preciso reconhecer que os desafios de Cabo Frio não pertencem apenas ao passado. O presente exige responsabilidade e vigilância. Não basta criticar gestões anteriores: é fundamental cobrar do governo atual compromissos efetivos com saneamento, mobilidade, segurança e, sobretudo, com uma política de turismo sustentável. A cidade não pode mais perder tempo com improvisos, disputas políticas ou medidas paliativas. A sociedade deve permanecer atenta e exigente, para que os erros do passado não se repitam no presente.
Ainda há tempo para mudar. O turismo precisa ser compreendido como atividade estruturante, capaz de gerar emprego, atrair investimentos, estimular cultura, preservar o meio ambiente e diversificar a economia. Isso só será possível com planejamento sério: ampliar a conectividade aérea e rodoviária, investir em saneamento para garantir praias limpas e certificadas, qualificar serviços, ordenar o aluguel de temporada e criar uma agenda cultural e esportiva que movimente a cidade durante todo o ano.
O futuro dependerá de uma mudança de mentalidade. Cabo Frio não pode mais viver apenas do improviso ou das grandes temporadas. Precisa construir um modelo de turismo sustentável, inclusivo e competitivo, capaz de transformar a cidade em referência internacional. Essa transformação exige ruptura com práticas antigas, coragem política e, acima de tudo, união da sociedade em torno de um verdadeiro projeto de cidade.
O tempo de esperar acabou, ou Cabo Frio se reinventa agora, ou ficará condenada a repetir, indefinidamente, a sua história de promessas não cumpridas.








Comentários